Os Brothers Of The Sonic Cloth não são só fogo de vista como a certa altura se chegou a recer quando, que nem banda presa no lodo discográfico, apenas tinham para contar uma demo e um split quase anónimo com os Mico De Noche. Este LP de estreia, onde Tad Doyle (referência para todos os apaixonados pela Sub Pop, com os TAD) se junta à mulher Peggy Tully e a Dave French, baterrista dos The Annunaki, oferece 3/4 de hora de uma brutalidade que não esperaríamos à primeira vista de um homem há muito familiarizado (mas não resignado) com os seus grey years.
Surpreende o peso e surpreende a intensidade do peso. É ritualisticamente agressivo, sem medo de citar Neurosis como fonte de inspiração como “I Am” sublinha, e é absorventemente constante ao longo de 44 minutos. A direcção é-lhes clara e Doylenão construiu Brothers Of The Sonic Cloth por mera rebeldia casual, até porque a adolescência vai-lhe longe. A violência amplificada é o mote e espalha-se tanto nos riffs poderosos como em Tad, cuja voz poderia ser recortada e colada nos discos sludge/doom que mais adoramos sem que o estranhássemos.
Sugiro este exercício: retiremos todo o contexto histórico de Tad Doyle e ouçamos este registo como uma cristalina novidade. Veremos como o tema “La Mano Poderosa” é uma excelente construção sludge (cresceu imenso quando comparado com a versão demo). Caso houvesse sido criado por um bando de miúdos, seria agora levada em ombros pela crítica.
Mas o contexto de Brothers Of The Sonic Cloth existe e é valioso. Prova também como o grunge, mesmo na encarnação super mediatizada dos Nirvana (“Endless, Nameless“), sempre esteve muito próximo da dissonância, por vezes psicótica, do jornalisticamente apelidado sludge. Pense-se também, claro, nos Melvins, que por tanto experimentarrem e distorcerem os seus acordes, juntaram a momentos a acessibilidade imediata do grunge ao sobrepeso sludge (“Zodiac“). Aconteceu nos anos 90 e a simbiose repete-se agora, quem diria, em 2015. Com a particularidade engraçada de Tad Doyle não só reler esse passado melvinístico, como de a ele lhe juntar todos os afilhados que de lá para cá encheram os catálogos Neurot ou Hydra Head.