O concerto do passado dia 24 de Fevereiro na Casa da Música juntava dois dos mais importantes pianistas de jazz contemporâneo. O Ciclo de Jazz Sonae celebrava então Modern Music, um disco de 2011 que contava com a presença dos dois, orientados pela composição de Patrick Zimmerli em muitos dos temas. Talvez o ponto unificador destas três importantes pessoas do meio, seja a versatilidade que reúnem nas suas obras individuais, quer como compositores, quer como executantes. Hayse Mehldau vão viajando por áreas como a composição contemporânea, o minimalismo e a improvisação livre. Apesar disso, Modern Music é um disco especial e na medida em que alberga ideias de Zimmerli, cria assim um novo desafio aos dois pianistas.
A atuação mostrou-nos um pouco desta dicotomia. É indisfarçável que em determinados pontos do direto, o carácter mais cerebral das composições deixa o público fora da zona de conforto. Talvez permita admirar, sem amar. A técnica de execução dos dois é sublime, mas sentimo-nos presos ao guião, às regras e acaba por deixar a música num plano bastante contido. As composições deZimmerli estão fundamentadas em muita da obra minimalista de Steve Reich e Phillip Glass. E curiosamente é em temas da sua autoria, como são Generatrix e sobretudo Crazy Quilt que esta reunião parece potenciar todas as suas qualidades por serem composições que permitem a Brad Mehldau e Kevin Hays acrescentarem alguma liberdade criativa de improvisação às composições. Houve tempo para prestar homenagem a Thelonious Monk através de Think Of Me e a Charlie Parker com uma versão de All The Things You Are. Para rematar o concerto, tivemos uma derivação pop com trecho de Sugar Man, canção maior de Rodriguez. As amarras das composições originais foram soltas nessa altura e deu para sentir alguma da doçura do improvisação total, campo onde são dois grandes mestres.
O concerto alternou fases mais contidas e frias com outros momentos mais arrebatadores. É certo que algumas das qualidades individuais de cada um ficaram guardadas, mas também é certo que muitas foram observadas, permitindo disfrutar de excelentes interpretações e prismas do que é a música moderna, quer com momentos mais reflexivos, quem com outros onde o groove se apoderou da sala Suggia recompensando todos os que se dirigiram à Casa da Música.