Pródigo ano este em que parece que cada banda aposta em reformular, refazer ou reciclar o seu som. Os Bosse-De-Nagetambém foram infectados por esse benigno vírus e, também eles, apresentam no novo disco componentes que até então andavam de forma, diga-se, bastante perspicazmente, escondidas. De facto, desde a edição do homónimo e ainda mais com o seu sucessor “II”, se entendia que a progressão e a chegada ao som que desvendam em “All Fours” era uma questão de tempo. Mesmo que isso nos leve de momento a procurar explicações sobre que banda era aquela que desalmadamente invocava as suas belas histórias em odioso formato.
Tentar entender que fusão é esta que agora parecem ter criado, é o maior desafio que a banda de São Francisco nos lança. Sinceramente, que se lixe a história se isto é black metal ou não. Que se lixe mesmo. Os Bosse-De-Nage conseguiram criar um elo entre tantas facções – olá hardcore, olá screamo, olá post-rock, bem-vindo a tudo – que se torna quase ridículo discutir esse assunto. Mesmo que estejam circundados na maior parte do tempo por sol, ouve-se por aqui uma pacificada negritude. Porventura até mais interessante que a maior parte das bandas que relegam para si o crescimento de um estilo e que por lá permanecem numa montanhosa Escandinávia.
Os riffs, senhores, os riffs. O balanço e a melodia, meus caros. “All Fours” é tão pródigo que chega a surgir a ideia do porquê de gastar por agora todos os trunfos. Assim, parece demasiado ambicioso consagrar em apenas uma rodela a compressão de tantas emoções. Talvez por isso, redundâncias à parte, este seja dos pedaços de fúria mais estimulantes e libertadores que nos chegam nos últimos anos.