O regresso dos Bon Iver aos discos era há muito aguardado e a banda de Justin Vernon não desapontou. É folk, pop e até soft rock a tresandar a anos 80, num dos melhores lançamentos de 2011. Há bandas que demoram uma carreira inteira a compor um grande disco. E há bandas que têm uma estreia tão forte, tão madura, que parece impossível manter a qualidade no follow-up.

Lançado em 2008, For Emma, Forever Ago, de Bon Iver, foi uma dessas estreias. Um disco que mais se parecia com uma escultura, com as faixas a crescerem lentamente, camada a camada, rumo a um produto final que é tão optimista quanto envergonhado.

Três anos depois, Justin Vernon e companhia mostraram ao mundo um novo álbum, homónimo. E, como é tradição nos discos homónimos, o que temos aqui é uma pequena revolução – e uma pequena desilusão para quem estava à espera de um simples For Emma, Forever Ago – Parte II. A atmosfera rústica do debut (que tinha sido composto por um Justin Vernon doente, ao longo de três meses, numa cabana no Wisconsin) foi substituída por uma aura de sofisticação e experimentação. O que não significa que o ouvinte não seja recebido de braços abertos, como tinha acontecido há três anos. Não – em Bon Iver tudo é estranhamente acessível, apesar de parecer algo complicado, quando pensamos nisso.

Enquanto For Emma, Forever Ago se focava na guitarra acústica e no falsete de Justin Vernon, o novo disco tem muito mais cor e está cheio de sintetizadores, trompetes, saxofones… A voz de Vernon, desta vez, não se resume à sobreposição de camadas de falsetes. Ele experimenta registos graves, agudos, alguns mais perto do folk, outros a piscar um olho à soul. E a própria produção do disco está tudo menos lo-fi. Talvez influenciado por Kanye West (Justin Vernon trabalhou com o rapper em algumas faixas de My Beautiful Dark Twisted Fantasy), a produção do álbum está muito mais cheia, mais “orquestral”, e consegue dar espaço para respirar à variedade enorme de sons e instrumentos, que resultam em perfeita sintonia.

Destacar uma só música de Bon Iver é uma tarefa inglória, mas vou arriscar: não consigo imaginar quem mais era capaz de juntar um piano melancólico a uma percussão electrónica e um autotune meloso e fazer um tema como Beth/Rest. Uma faixa que foi lançada em 2011 e soa a pop mais antiga que o próprio Justin Vernon.