Blanck Mass - "Dumb Flesh"
8Sacred Bones

Num hipotético questionário a John Power, talvez de chofre lhe perguntássemos se se aborrece por não conseguir distanciar-se de Fuck Buttons enquanto Blanck Mass. É a ditadura das associações, a cinética das nomenclaturas. Se Power tivesse nascido neste disco para a exposição global, seria o tipo por detrás dos Blanck Mass. Como não, acaba por ser o gajo dos Fuck Buttons a solo.

Posto isto, e prosseguindo sob as vontades absolutistas donerdismo musical, as justaposições entre o seu maior projecto e este endeavour lateral acabam inevitavelmente por surgir. Blanck Mass também é electrónica e também é electrónica exploratória. As texturas, no entanto, são mais firmes. Arriscam a pulsação techno e a percussão que nos enche o peito de certezas. Por vezes dá ar de pop brutal, um exército de violentas vibrações que se intromete nas airwaves mais indefesas ou um pelotão digital cuja directriz passa por repor a ordem nas rádios comerciais. Os D.A.M.A. são de repente substituídos pelo ludismo dançante de “No Lite” e o trânsito nas mais densas e cerúleas artérias metropolitanas flui sem auxílio de semáforos, placas ou polícia. Blanck Mass mexe-se com ordem, bate com firmeza, ajusta-nos o nível de dopamina e tem uma austeridade que faz acreditar numa pista de dança obediente às dinâmicas mais negras.

“Dumb Flesh” é crepuscular e um excelente epílogo se buscam o mais férreo sufixo para o paisagístico “Slow Focus”.