Uma lua a meia aste iluminava o terraço da ZDB, dez minutos para as 22h. Durante a restante meia hora, recostados num fastio de névoa agradável, assistimos à composição gradual de uma casa que viu distraidamente o The Astroboy. Nós, deixando-nos ficar perto da vidraça, ouvimos e sentimos as intermitências minimais e sentimentalistas do produtor português, acompanhadas por conversas sobre diferentes tipos de banalidades.

Enquanto tudo isto se sucedia, continuámos a assistir ao nosso espetáculo: a chegada constante de convivas que surgiam de uma espécie de membrana espacial localizada na intersecção do terraço e do bar. Talvez tenha sido a embriaguez indelével que brotava em esguichos de som pela porta do aquário. Estava-se bem. Tudo fluía convenientemente, nada aborreceu perante um “Flow My Tears” que parece açambarcar todos os sentimentos humanos facilmente. Nem o aglomerado tosco sem noção da ocupação devida dos espaços.

Astroboy calharia bem melhor com a noite mais avançada na sua timidez, com músculos do pescoço a precisarem de relaxe. Após o que uma sala, quase cheia, veio presenciar: trasições de palpitações e estímulos de perigo, paranóia, dormência, cunho das mais finas brisas, quentes e dúbias, das terras da areia. Estava longe quem na ZDB se encontrou. A lembrar a realidade, foram surgindo as típicas carantonhas de várias cores e feitios espalmadas do lado da rua contra o vidro.

O homem dos astros permaneceu em palco, tal como Rodrigo Amado que, de quando em vez, trazia o saxofone em guinchos, embrenhando-se na restante composição quase sem se notar. Se não o víssemos, nunca saberíamos que ali se encontrava o som de um instrumento de sopro. Mas também escutámo-lo em insursões clássicas de elevador na “Africa II”, quando a grossa linha de baixo pulula espaços de groove de bateria.

Espaço para uma saída que não enganou ninguém, no retorno sucinto: “Arábia” iniciou-se sem surpresas, mas desarmou-nos na mesma, teletransportando-nos através de cenários que desconhecemos no nosso imaginário.