Já dizia Adolfo Luxúria Canibal: “Junto ao Munt Plein acostei e fui dar uma olhada ao catálogo do Big Fun. Tinham Black Bombaim. Comprei 2 pacotes e enrolei um joint a acompanhar o café”.

O meu catálogo também tem Black Bombaim. Não se fuma. Não poderei dizer que se consome, senão estaria a dar razão ao filósofo Habermas quando afirma que a sociedade passou de apreciadora de arte, a consumidora de arte. Mas poderei dizer que se adapta perfeitamente a uma longa noite a estudar a “questão fumófita, ramo querido da herbocinética”.Deixando os ornamentos e rodriguinhos de lado, Black Bombaim é do que melhor floriu em Portugal, nos últimos anos. Um trio instrumental claramente inspirado nas façanhas dos Black Sabbath da década de 70 – como não poderia deixar de ser – pronto a destilar uma forte torrente psicadélica, como há muito Portugal não sentia.

 Saturdays and Space Travels tem um nome que indicia algo, algo esse que acaba por ser bem verdade. Viagens espaciais são o que este LP mais proporciona. A própria guitarra de Ricardo, tão bem entranhada na bateria frenética de Senra e no voluptuso e groovy baixo de Tojó, parece uma nave cósmica numa autêntica peripécia andróide… Riffs atrás de riffs, solos atrás de solos e fuzz carregado de mais fuzz tornam Ricardo numa espécie de Tony Iommi arraçado de Josh Homme dos tempos de Sky Valley… Tudo isto com mais uns quantos ácidos à mistura, num ritmo non-stop e bem veloz.

Sim, porque Black Bombaim nem se deu a trabalho de dividir isto por faixas. São apenas dois lados, A e B (ou não fosse isto um LP), onde se encontra um trabalho musical livre e sem barreiras aparentes. O que faz com que os quarenta minutos sejam tão fluidos que nem nos é permitido ter real noção do tempo, o que contribuiu, e muito, para a sensação de viagem alucinante.

Estes tipos colocaram Barcelos no mapa musical do país, definitivamente. Não só a tornaram numa espécie de capital do stoner rock, como capitalizaram esse epíteto com o festival Milhões de Festa, onde deram um concerto magnífico, bem centrado neste LP.

E com o poder que eles demonstram, da próxima vez que for a Barcelos acredito que em vez de prédios e afins, encontrarei um deserto árido, com cactos, serpentes e tudo o que mais fizer parte desse cenário imaginário. E lá estarão eles no meio, prontos para uma desert session à portuguesa, quais presbíteros do psicadelismo stoner.