Ponha-se desde logo os pontos nos iis: Black Bombaim é uma banda do caraças, la la la ressonance não lhes ficam em nada atrás. Onde uns são excelsos, os outros são um receptáculo de input. É o que faz das duas monstruosidades minhotas um projecto verdadeiramente digno do epíteto “superbanda”, nem que seja pelo usufruto do conceito de “ficar melhor” dos power rangers: juntar, juntar e juntar.
Se é neste cruzamento promíscuo de linguagens que os Black Bombaim + la la la ressonance se revelam, em tensão, é também nele que encontram o maior obstáculo na concretização das ideias em concerto. As introduções das músicas pecam por longas (evidente no início do concerto) quando estas nos agarram desde logo pela clareza com se projectam no Passos Manuel — e pela dimensão que atingem, sabendo-se, à partida, que vão ganhar.
Delongas de parte, e desde que o saxofonista Paulo Miranda assumiu a sua posição no centro do estrado, num namoro free jazz com a ideia de crescendo que se preparava. Um papel adornado com as texturas electrónicas de Luís “Astroboy” Fernandes e retalhado com a entrada em cena de secção a secção, até às guitarras e ao êxtase de “Bruce Lee”. Há que saber que o condão dos Black Bombaim é o groove, e que é onde a sua contribuição para o monstro é essencial, na pujança, e que a capacidade de elaborar paisagem a paisagem é uma qualidade de requinte raro, mas intacto e em força nos la la la ressonance. Pacientemente, tudo no concerto é levantado à volta destes traços e da capacidade de os trabalhar, ancorada nos timoneiros Tojo Rodrigues e André Simão, que se ocupam invariavelmente do papel de baixistas, e na sua relação com a percussão. Ao melodicamente elaborado dos la la la ressonance, os Black Bombaim acrescentam a potência de locomotiva; ao balanço cambaleante e de curvar espinha do trio barcelense, os autores de “Faust” adornam com textura, e diálogos instrumentais descritivos.
Se o disco, curto o suficiente para nos deixar de água na boca, se revelou como uma tirada de esforço monumental, com direito à respectiva recompensa, em concerto a superbanda minhota sublinha a capacidade monstruosa da formação em palco. Claro, como em todas as estórias de super-heróis, há uma mau sítio de onde tiveram de sair — sabíamos, desde os primeiros segundos, que Black Bombaim + la la la ressonance iriam ganhar, mas a chegada ao modo megazorde foi um tanto retardada. Nunca o suficientemente para nos desviar a atenção do final épico, do desfecho literalmente explosivo de “Tsunami”. No fim, sabíamos: valeu tudo a pena.