O mais recente registo discográfico da diva da música alternativa, Björk, cavou um fosso na crítica: estará este Volta ao nível do tão aclamado Post (ou seja, será a fórmula a mesma)?; será este apenas mais um trabalho da artista? Vamos assumir que um álbum de Björk, para ser bom, não tem que ser como Post e admitir algum potencial no mais recente trabalho da islandesa.
A verdade é que quando se fala de uma artista como a extravagante diva não se pode partir do princípio que repetir fórmulas é algo que ela pondera; muito pelo contrário, à semelhança de alguns poucos génios da música contemporânea, as composições de Björk são resultado de contactos com outras realidades sonoras e da exploração dessas mesmas realidades, pelo que é, e sempre será, um produto de uma evolução constante, por acumulação de conhecimentos e culturas distintas. Por exemplo, há uns anos atrás a islandesa esteve durante largas semanas no Brasil, a fim de conhecer a música quente desse país. E, é claro, essa aplicação das diferentes realidades é observável na necessidade experimental que artistas assim sentem. Assuma-se Medulla como exemplo: este álbum não contém uma única música com instrumentos, isto é, todo o som que se ouve, por muito estranho que soe, é sempre uma vocalização.
Desta vez, o percurso musical de Björk trouxe-nos uma vertente mais electrónica, quase industrial, complementada por alguns instrumentos de sopro, ou seja, as sonoridades são todas conseguidas através de sintetizadores e metais, com o acrescento numa ou outra música de uma bateria e outras percussões. Quando ignorada esta nova realidade musical, o oriente da China invade-nos de forma ambiental, declarando qual o ritmo cardíaco com as suas batidas fortes, mas baixas, enquanto que instrumentos cujo nome eu não conheço, mas que são característicos do extremo-oriente, nos absorvem (destaco I See Who You Are, neste género).
Estes sopros têm um papel muito característico em Volta, já que não fazem uma melodia mas sim um ritmo, à semelhança do uso que se dá a alguns violinos ou violoncelos, por exemplo. É claro que esse papel, dentro do próprio álbum, é subvertido: Volta não podia ser mais completo e cheio de muita coisa do que efectivamente é. As vocalizações não têm de ser destacadas pois são de Björk, cujas interpretações são distintas de tudo o resto e únicas.
Volta tem melodias mais ambientais,mais dançáveis, ou de pura raiva, o que me leva a caracterizá-lo como um trabalho de extremos; mas extremos muito bem equilibrados ao longo deste grande álbum. Tanto se ouve uma canção de olhos fechados, por exemplo The Dull Flame of Desire, como somos assaltados por uma vontade de saltar e partir tudo em nosso redor ao escutar Declare Independence, ou por uma vontade de dançar ao som do primeiro single Earth Intruders ou da ritmicaInnocence.
Acho que é um erro dizer que um álbum de Björk é mau por ser diferente dos anteriores. Há a necessidade de conhecer os trabalhos dela para saber de qual se há-de gostar, ou para se perceber a evolução da artista. Volta é um bom exemplo do percurso musical da islandesa: imparável.