Estaríamos todos a mentir se disséssemos que a Björk não faz as coisas pela sua vontade de ser diferente. Não é isso, no entanto, que pauta a genialidade da islandesa; é, sim, a qualidade do que faz, que nunca verga. Prova viva disso é Biophilia. Sim, esta é um daqueles álbuns que está vivo e que, por isso mesmo, pode ser resumido a “uma obra dentro de uma obra.” Parece pouco, mas é esse o princípio de tudo.
Por mera humildade, talvez, ou antes movida pela concepção interactiva de Biophilia, cujas músicas são apenas um dos membros envolvidos neste novo corpo musical da cantora, a abordagem quase darwinista da música está cravada em todo o disco. Sempre de propósitos simples, as músicas do novo álbum começam despidas como formas de vida monocelulares, em que apenas um instrumento, tão acústico como um xilofone ou uma harpa, ou tão artificial quanto um sintetizador, se encarrega de fazer tudo o que é essencial para a voz de Björk não cair no vazio. Não é, contudo, um propósito simples, pois, não raramente, damos por nós num turbilhão empolgante, como o que é mecanicamente construído em Crystaline. Aliás, o final, de uma agressividade quase drum and bass, é o um epíteto, talvez o mais intenso do álbum.
Esta característica evolutiva, em que as músicas se vão adaptando e melhorando as suas fragilidades, é o que torna a audição do álbum difícil. Há uma familiaridade relativamente ao passado musical da Björk a pairar em todo o Biophilia (principalmente ao nível do tão orgânico e ligado aos sentidos Vespertine), que acaba por nunca se concretizar da forma como desejamos nas formas breves das canções. Felizmente que a paciência necessária para a chegada da sua fase adulta tem as suas recompensas sónicas, não só como se nota no primeiro single, mas igualmente evidente na dupla Hollow e Virus.
Mesmo que músicas como Cosmogony, apenas reminiscente e francamente insuficiente para saciar a sede de brilhantismo do que uma mente como a de Björk é capaz, e a voz menos elástica comecem a acusar o peso dos anos na islandesa, Biophilia é uma tese nas bases sólidas da humildade científica. Na mesa da sua criação, fica logo disposta a informação de que a música tem um contexto, um programa que lhe dá outra vida, e que sozinha é uma amostra justa mas insuficiente de uma grande carreira; também evidente é a informação de que Björk continua a sua busca pelo som mais incrível – de disco para disco, vamos ficando mais próximos e isso é o suficiente para continuarmos a empurrar a islandesa para onde ela quiser ir.