Há músicos de quem estamos habituados a esperar grandes feitos e Ben Frost, por tudo o que fez ao longo da última década, já é um deles. O australiano radicado na Islândia, compositor, produtor e multi-instrumentista responsavel por By the Throat, junta-se aqui ao companheiro de editora Daníel Bjarnason para uma nova visão sobre a obra de Tarkovsky.
E que dupla que eles fazem, o australiano e a sua dualidade máquina/animal e o islandês, mais clássico, mais expansivo. A ideia para este projecto partiu do Unsound Festival, de Cracóvia, e os dois músicos tiveram a colaboração da orquestra Sinfonietta Cracóvia.
Para Ben Frost, foi uma oportunidade de destacar o elemento humano da obra, uma vez que o músico australiano acredita que a banda sonora original destaca demasiado o lado de ficção científica do filme. Um aspecto que lhe interessa pouco, disse, quando foi entrevistado na última vez que visitou Portugal. E faz sentido. Há momentos aqui que parecem sacados de um concerto de Frost, como por exemplo Saccades ou a inspirada Unbreakable Silence, com as suas cordas que se silenciam quando menos esperamos, para recomeçarem, pouco mais adiante, a crescer, rumo a um clímax eufórico.
E o misto de caos e técnica, envoltos em cordas e piano, tão caracteristico do debut de Bjarnason (Processions) também está por cá… Enfim, é uma colaboração como deve ser. E uma boa forma de passar o tempo, até os músicos decidirem começar a trabalhar nos respectivos follow-ups. São 46 minutos dos melhores que ouvimos no final do ano passado.