Final de tarde solarengo na costa da Califórnia. A brisa corre fresca tentando roubar os longos cabelos do vosso(a) namorado(a) pelas janelas rebatidas de um Chevrolet Camaro. Do leitor ouve-se aquele rock musculado de refrão inesquecível a dar ritmo a cada passa de cigarro. Podíamos continuar com a analogia pateta mas já devem ter percebido onde queremos chegar. Por muito cliché que seja, existem bandas que se colam perfeitamente a este cenário e esta noite de domingo estava reservada para duas delas.
Para primeira paragem, os portugueses CORREIA. O mais recente projecto dos irmãos “Poli” Correia (Devil In Me) e Miguel “Mike Ghost” Correia (Men Eater) já dá que falar há alguns meses, ainda que pouco se tenha ouvido deles. O disco de estreia, “Act One”, está para breve e com o pouco disponível para audição a maioria estava completamente ás cegas em relação ao que dali viria. Pela resposta do público, foi uma descoberta vitoriosa. Dando uma vista de olhos aos estímulos visuais já disponibilizados (vídeo para o single “Deliver Us” e artwork) podemos dizer que a banda soa exactamente àquilo que estávamos à espera, sem grandes filosofias místicas de procura transcendental, sem grandes merdas – citando os próprios: é rock’n’roll. Com umas influências stoner ali, uma pitada de psicadélico acolá (em muito por culpa do trabalho de teclas do Poli), mas puro rock’n’roll acima de tudo. Numa nota menos positiva ficam as linhas vocais que, tenha sido por culpa do som ou pelo estado ainda embrionário da banda, soaram pouco equilibradas e, por vezes, desarmoniosas.
Segunda parte da noite, uns quantos hinos de rock depois e todos os caminhos vão dar a Baroness. Caminhos longos e morosos tendo em conta a procissão que ainda aguardava entrada já os CORREIA tocavam mas como diz o povo “não há fome que não dê em fartura”. Quase duas dezenas de músicas esperavam os pobres coitados que passaram duas dezenas de minutos ao frio para os ver. Sendo esta a tour de apresentação do novo disco “Purple”, um dos mais aclamados do ano passado, já se sabia que grande parte do set lhe seria dedicado e a verdade é que o tocaram na íntegra. “Kerosene” abriu assim a noite, cheia de fulgor, seguida logo por “March To The Sea”. Ajudados também por um dos melhores sons que já se ouviu naquela, por vezes impiedosa, sala, tudo parecia encaixar na perfeição, tudo fazia sentido, cada mudança no tempo certo, nem um segundo a mais em cada riff. É nisto que os Baroness são bons, a construir canções, rockalhadas redondinhas que colam tanto ao ouvido quanto qualquer malhinha de AC/DC (que no intervalo entre bandas tocou e re-tocou).
Mas por muito rock’n’roll que se tenha destilado naquele palco há que dar todo o valor (e mais algum!) à nova secção rítmica. Sem qualquer tipo de desprimor pelo trabalho do “Super-Baizley” e do Peter Adams, há que tirar o chapéu à pujança que Sebastian Thomson e Nick Jost (principalmente este último) vieram trazer à sonoridade da banda, notando-se com especial graça nas músicas mais antigas como “A Horse Called Golgotha”. A cada nota daquele baixo, um rejubilo Byronesco. And let thy gentle fingers fling / Its melting murmurs o’er mine ear. Hipérbole, talvez, mas os Baroness de 2016 em muito cresceram em relação a 2012, num efeito fénix raro de se ver.
A noite continuou com mais “Purple”, “Yellow & Green” e a segunda (e última) de “Blue”, a bouncy “The Gnashing”. Braços no ar em todas as músicas, cantoria desenfreada, saltos e gritos estridentes entre músicas – estava ali montado um mini-concerto de estádio. O entusiasmo da banda era contagiante: Baizley cantava a sorrir e enquanto não cantava… sorria na mesma, com razão, porque tanta mestria embebeda qualquer um de orgulho. Mesmo quem só lá foi parar por acidente/arrasto não podia ficar indiferente ao espectáculo.
Voltam para encore com “Isak”, a representante solitária de «Red», disco de estreia da banda. “Take My Bones Away” foi, compreensivelmente, a última música da noite não fosse esta “aquele hit” que toda a gente conhece e toda a gente sabe/quer cantarolar. Aquando da derradeira despedida do palco do Paradise Garage, inicia-se a debandada descoordenada e de dinheiro em riste para a banca do merch. Não ficámos para ver o que sobrou mas, dado o aglomerado que se formava na frente da mesa, o saque deve ter sido pesado. A banda, com toda a certeza, agradece.