É impossível mencionar Josephine Foster na sua singularidade. Pelo menos, em relação a este regresso à ZDB. Apresentando o seu mais recente projecto Anda Jaleo, no qual recria músicas populares espanholas, a cantora americana de new-folk fez-se acompanhar pelos três músicos (Victor Herrero Band) com os quais gravou o álbum, músicos esses que abrilhantaram de sublime maneira toda a actuação.

Ainda o concerto não tinha começado e já se esperava algo pouco usual. Uma harpa, uma harmónica, um humilde tambor com um igualmente humilde prato – substituindo a tradicional bateria – e uma pandeireta compunham um ramalhete não tão ortodoxo assim.
E, aquando do início do concerto, o baque foi imediato. Numa sonoridade acústica tipicamente mediterrânica, oriunda daquelas aldeias soalheiras onde prosperam as oliveiras, o contraste com o timbre quasi-operístico de Josephine Foster funcionou de forma encantadora e cativante.

Para isso, muito terá contribuído a musicalidade dos três espanhóis, com destaque para Victor Herrero, o guitarrista principal. Com aquela garra tão característica de quem adora explorar a viola acústica, Victor foi quase sempre figura central da actuação – e mais o foi quando tirou da caixa uma belíssima guitarra portuguesa, com a qual interpretou, por exemplo, El Cafe de Chinitas, enquanto Foster mantinha o ritmo com as indispensáveis castanhola. O bater de pé também tão usual na tradição musical espanhola não faltou… Demorou muito pouco até que o espaço daZDB se transformasse no cenário compilado por Federico García Lorca, em 1931.

Com um pequeno interregno a meio, a segunda parte do concerto ficou marcada pela polivalência da cantora do montanhoso Estado do Colorado. Los Reyes de la Barajamostraram uma Josephine angelical e plácida, enquanto dedilhava a harpa presente a seu lado. Um quadro mais bucólico seria difícil de idealizar. Reinou a serenidade durante mais  de uma hora de actuação deste excelente dueto ibero-americano.
No terminus, e já com as apresentações finais (e respectivos aplausos) feitas, tocou-se uma sevilhana em jeito de celebração, com Josephine Foster a fazer uso da sua harmónica. Foram os últimos laivos de cor neste 21 de Outubro – até porque os Barn Owl já se preparavam para sugar todo e qualquer tipo de luminosidade que fosse além da paleta neutra.

Desimpedido o palco dos instrumentos da 1ª actuação, ficaram expostas as intenções do duo de San Francisco. Imensos pedais, duas guitarras e dois imponentes amplificadores, ornamentos habituais de uma noitada drone.
Evan Caminiti e Jon Porras deram sinal afirmativo à crew da ZDB e, de imediato, baixaram-se as luzes e foi ligado o projector, o qual nos presenteou com imagens minimalistas a preto e branco.

Com elas, vieram também os primeiros acordes arrastados, que soaram como autênticos chamamentos para uma introspecção sincera, mas, ao mesmo tempo, convulsa. A cada segundo, o volume crescia, aumentando também a vibração do nosso corpo. Culminou com um violento ataque sonoro, capaz de lembrar alguns momentos passados em Fevereiro deste ano, na LX Factory.

Um puro drone que desaguou em águas melancólicas e menos turbulentas, poucos depois. De imagens acizentadas, passou-se para o desabrochar das mais variadas plantas, num tom verde. O feedback instalou-se, as vocalizações de Evan Caminititambém, criando uma atmosfera sonora que fez, até, com que o já conhecido cão São Bernardo da ZDB quisesse assistir aos momentos derradeiros da actuação dos americanos.
Um concerto curto, é certo, mas que deixou a olho nu aquilo que os Barn Owl são.