De refrães na ponta da língua, entoados por aqueles que os acompanham há trinta anos ou trinta dias, vivem as actuações dosMata-Ratos, que nunca perdem tempo em transformar qualquer sala num exemplo-mor daquilo que é uma atmosfera de um concerto punk. Começando com Raça Humana, a mítica banda de Oeiras rapidamente encheu o Revolver, levando para dentro muitos daqueles que ainda conversavam no exterior, ou não fosseNapalm Na Rua Sésamo ou Leis De Merda antídotos ideais para o frio que o Rio Tejo ia elevando.
De olhos arregalados e veias salientes, Miguel Newton continua a ser um dos frontmen mais carismáticos do underground português, sem que para isso precise de dizer o que quer que seja nos intervalos entre músicas. Basta-lhe entoar Amor Eterno para que a plateia logo acorra em sua direcção. E bastam aos Mata-Ratos quinze músicas, e uma C.C.M. a encerrar, para que o nome da banda seja entoado já para lá do final da actuação, cujo ponto negativo a salientar foi uma medíocre acústica, onde a guitarra muitas vezes sofreu as suas consequências.
We Are The League, gritou Animal, dando início a um concerto que teve o condão de se transformar em máquina do tempo. O público, maioritariamente composto por aqueles que viveram a fase áurea do punk português, entregou-se de imediato ao estilo street dos ingleses, que faz da sujidade e da decadência pontos fortes. As cristas, os coletes, os cintos, as botas, os back patches – não faltou nada no Revolver, que se viu praticamente transformado num spot de uma qualquer rua londrina de Camden.
I Hate People levou a plateia para outro nível, que furiosamente respondeu com um violento mosh e com stage divers – alguns, iam escorregando nas poças de cerveja que rapidamente alagaram o palco, fruto dos múltiplos copos arremessados. Animal, esse, de joelhos, arrancava da sua portentosa voz a letra de Let’s Break The Law e My God Is Bigger Than Yours, antes de partir para a míticaSo What.
Colocada no mapa mainstream pelos Metallica, não há quem desconheça o ritmo e as palavras de uma música que popularizou os Anti-Nowhere League nos mais variados recantos do mundo. E o orgulho de So What ter sido escolhida pela banda norte-americana para o seu álbum de covers, e para título da sua própria revista, está até patente no braço direito do guitarrista dos ANL: lá está ele, tatuado, o logótipo dos Metallica.
Poder-se-ia até julgar que a actuação dos britânicos iria perder gás a partir daqui… Puro engano. Woman, com algumas senhoras a irem até palco, e Streets of London mantiveram a plateia em ebulição, onde alguns já dispensavam as tshirts e enfrentavam o vaivém do mosh em tronco nu. Fucked Up And Wasted quase poderia ser hino oficial da noite e Burn ‘em All o resumo final das entranhas pútridas de uma banda que permanece fiel a si mesma, três década depois de tudo se ter iniciado. Eles são os League, osAnti-Nowhere League, e foi novamente com a faixa de abertura do seu álbum que encerraram um concerto que desafiou a sentença “Punk Is Dead”.