As influências são sempre uma membrana vital do corpo musical. Mesmo que não queiramos, todos nós somos o total das experiências, dos momentos ou das pessoas que passaram por nós. Sonicamente, os factos desenrolam-se de maneira similiar. E é por aqui que começamos, ao voltar atrás até à noite de quarta-feira, no portuense Plano B.

Quando, em 1997, os Ornatos Violeta editaram Cão!, a forma de pensar e imaginar música em Portugal foi revolucionada. Anos mais tarde, 2005 marcou o calendário deste cantinho, com o lançamento do EP de estreia dos Linda Martini. A somar a estes factores, há que ter bem presente o movimento e o legado que os trabalhos de Manel Cruz deixaram e, pelos vistos, ainda deixam no underground musical da invicta. Isto porque os O Bisonte – curadores da sessão de concertos na sala da Cândido dos Reis – vão beber a estas influências, em demasia até.

Se o rock é a palavra de ordem, a energia deste quarteto é a bíblia da sua actuação, ou antes, a hóstia – agnosticismos de parte – que coroa a sua performance ao vivo. Mas, voltando à premissa inicial, o som, hoje em dia, é um prazer explorativo. Nada se cria, tudo se transforma, diria Lavoisier. E, aprecie-se ou não, a distorção suada das guitarras; a pujança da bateria e uma rebeldia (mesmo que excessiva) dos O Bisonte têm de ser louvadas. Os influxos de outras paragens estão lá, tal como está um espaço para progredir.

Numa sala quase cheia, a ânsia pertencia à entrada em cena dos irlandeses And So I Watch You From Afar. A cena pós-rock, há muito declarada morta, tem vindo a evoluir por outros caminhos. Os ASIWYFA são um desses exemplos: senhores do instrumental que se deixaram levar pelos maneios do mathrock.

Com um som da sala muito próximo do perfeito e com o público em histeria absoluta, o trio de Belfast ofereceu ao Porto aquilo por que este ansiava: as entrelinhas das guitarras em riffs animais, o ritmo frenético que melhor caracteriza Gangs – o mais recente longa-duração da banda, de 2011 -,o complexo das texturas atípicas, quase tropicais, quase screamo-bipolares, quase em abertura floral, como no clássico pós-rock.

A reacção? A água a escorrer pelas costas de uma multidão que sabia para o que ia. Um Gang [que] Starting Never Stopping, a ecoar, orelhudamente, cá dentro.