Mais uma noite de rap no Cais do Sodré para o segundo acto de asNoites da Lisa – com Xibi e Tchora Mc na abertura e Psydin Atómico antes do habitual cabeça de cartaz: Allen Halloween, que contará com a colaboração especial de Rodrigo Amado. À hora marcada, é ainda muito ameno o ambiente nas imediações do Musicbox: vêem-se poucas pessoas e, entre estas, o maior aglomerado refere-se à malta que irá actuar antes de Halloween. Ninguém podia entrar. Depois de trinta minutos volvidos foi dado o sinal pelos seguranças do Musicbox. Os mesmo que, conhecidos pela compreenssão e flexibilidade, não permitiram a passagem a Psydin, DJ Núcleo, Tchora Mc e o resto do staff que anteriormente tinha estado no sound check (como referiram). Aqui o PA’ foi mesmo o primeiro a entrar.

É meia-noite e praticamente não se vê vivalma dentro do Musicbox: DJ Núcleo já conseguiu entrar, está no palco a passar som e possivelmente a afinar a mesa para as actuações. Mas o ínicio ainda leva mais meia hora: Xibi e Tchora Mc são os primeiros a irromper em palco, perante uma parca e sinistra plateia. Eles que estiveram muito bem, sendo os primeiros a actuar nas condições já mencionadas. Boas demonstrações de rimas e flows de Xibi, e Tchora Mc com propensão para afinar a voz em berros e cantorias. Quem estava no palco não era desconhecido para a totalidade da plateia; já contam com alguns hits a bombar no youtube – Destino é Gangsta dedicado ao bairro da Vialonga ouQuando Vês Chuva (que encerrou a actuação) e cujos refrões foram audíveis por parte dos convivas.

Quem se segue vem de Loures, Psydin Atómico, conhecido pelo bom humor e pelo seu rap agressivo em crioulo, devidamente acompanhado por Roger Wize e Mc Braulio. E desde logo avisou: “Tivemos rap em português e crioulo antes, agora é só rap crioulo fodido que faz parte da ementa!”. Uma atmosfera empática foi criada com a plateia: gargalhadas frequentes e muito, muito fumo: “Quem é que fuma ganza aqui? Porra, quase toda a gente!”. A actuação foi curta, com Psydin no final a saudar quem se seguiria:Allen Halloween, que entrou sem demoras e com poucas cerimónias, talvez até surpreendendo o público, que já se atomizara pelo recinto do Musicbox, que nesta noite se afigurava enorme.

Lucyfer é quem ladeia Halloween e, antes de atalharem no ínicio habitual com a ida ao Recreio, os dois chamam o disperso público para a frente. A malta respondeu prontamente, mas emoção é pouca – mesmo depois de Drunfos, o sistema nervoso central da plateia parece estático. No entanto, respondendo às poderosas prestações e incentivos de Halloween, deu a Ciclo da Vida coros consideráveis. Raportagem fez esmorecer novamente o freio do público, sem no entanto importunar alguns elementos, que rimaram tudo o que Allen rimou até ao fim. O rapper, no final, referiu irónico: “É tanto amor que até dói no coração”. Mas o que doeu foi o que se seguiu: Swag deixou completamente aparvalhadas as pessoas que se encontravam no Musicbox por mero acaso.

De seguida, Halloween falou do facto de se manter à parte dos grandes nomes do rap nacional, explicando o que é considerado arrogância e, igualmente, o principal intuito da iniciativa Noites da Lisa: “O meu nome tornou-se grande, agora não vou começar a girar só com os outros grandes que vocês todos já conhecem. A dica é trazer o rap de rua, trazer sangue novo,cenas novas.” O discurso serviu de mote também para a entrada de Rodrigo Amado. O convidado especial desta edição das Noites da Lisa fundiu o som do seu saxofone na batida e letra da clássicaSOS Mundo, em estilo acid jazz, enquanto o flow de Halloween fluiu como se de um DJ se tratasse. Uma colaboração que, não tendo sido ensaiada, afigurou-se um grande momento, com direito a longo solo no final, braços no ar e Allen Halloween a dançar.

O fumo que cessara, devido à inquisidora vigilância dos seguranças, voltou a erguer-se e neste momento o ambiente é bem mais caloroso. Lucyfer disse: “Agora já somos poucos mas bons”. A plateia continuou enérgica, tentando acompanhar o flow insano em Killa Me e, após dois rewinds, em Mary Bu, respondendo prontamente ao apelo de Lucyfer: “Quem é que vai fechar um canhão neste som?”. Mas parece que isto não agradou ao pessoal do Musicbox: o restante concerto correu com uma atmosfera tensa e rápido demais, numa Fly Nigga muito curta no desenlace, frente a uma plateia mais escassa que a na primeira edição e, ainda assim, mais efusiva – em determinados momentos, é certo. Certo é também que o Cais do Sodré não tem ambençoado Allen Halloween, dito pelo próprio: “Aqui nunca me dão love”.