Não espanta que o Furacão Irene se tenha transformado em tempestade tropical assim que começou a subir a costa Este dos Estados Unidos. É que ali para os lados de Massachusetts habitam múltiplas almas atormentadas, que, de há uns anos para cá, conseguem até amansar intempéries armadas em campeãs.

O verdadeiro “campionismo” reside nesta malta dos All Pigs Must Die. Com um nome que nos atira para o álbum de Death In June e com um álbum que parece referenciar Blood Meridian de Cormac McCarthy, a banda americana faz-se compor por membros de The Hope Conspiracy, Bloodhorse e, como não poderia deixar de ser, Converge. Tudo gente desse Estado que viu nascer, por exemplo, Isis.

Formada em 2009, esta banda fez-se estrear com um EP homónimo no ano seguinte. Agora, God Is War confirma peremptoriamente aquilo que já era possível descortinar com as cinco faixas lançadas em 2010: um híbrido composto pela violência de um peso-pesado e a rapidez de um velocista dos cem metros. Um atleta temível, treinado pelo reputado Kurt Ballou – mais uma produção para o curriculum vitae deste incansável rapaz.

Caótico, imponente e repleto de riffs excruciantes, este primeiro longa duração dos All Pigs Must Die é uma magnum opus dentro da actual moda americana inspirada no que os escandinavos Wolfbrigade ou Skitsystem faziam nos anos 90. Uma moda onde o hardcore recebe as mais variadas influências: mathcore, death, crust, sem esquecer, claro está, a podridão sludge/doom da cena de New Orleans – que, não sendo óbvia, está quase sempre lá, nem que seja nos tensos feedbacks à Jimmy Bower.

E se Darker Handcraft, o mais recente trabalho de Trap Them, tem reunido muitas medalhas de ouro desde o seu lançamento no passado mês de Março, God Is War assume-se como um adversário à altura na luta, no mínimo, pela prata.
Do furioso motim anunciado aos quatro ventos pela faixa de abertura Death Dealer, aos notáveis e arrastados oito minutos finais que constituem Sadistic Vindicator, os All Pigs Must Dieconseguem reunir uma crispada meia hora que exige sempre o volume no ponto máximo. Vilipendie-se esses pavilhões auriculares, pois então.