Há porcos que teimam em vestir fraque e deambular sobre duas pernas. Há cavalos, ingénuos e leais, que perecem ante a exaustão de um trabalho eterno, um esforço em nome do nada. O morticínio não termina, não terminará. Assim diz Kevin Baker, vocalista dos All Pigs Must Die, que alerta desde os tempos dos The Hope Conspiracy para o grunhir de quem nos circunda. A propósito dessa natural habilidade humana, a do assassínio tirânico, tão espelhado no LP “Nothing Violates This Nature” [Southern Lord; 2013], roubámos umas palavras ao frontman dos norte-americanos.
All Pigs Must Die – que belo nome. A iconografia relacionada com os porcos, presente também no teu trabalho com os The Hope Conspiracy, recorda-me certos conceitos Orwellianos. Quem são os porcos, onde está a pocilga e onde acontece a chacina?
Qualquer pessoa, instituição, corporação, governo, religião etc. que se coloca à frente da humanidade. “Roubámos” o nome de uma música dum projecto que admiramos, os Death In June. Marca fortemente o nosso ponto de vista, exactamente o que prentendíamos. Numa entrevista, eles disseram tudo: “All Pigs Must Die é uma limpeza, um acto de vingança e desprezo. Tem um objectivo específico e esse deve ser atingido, custe o que custar.” A chacina ocorre dia após dia. Basta leres um jornal ou um honesto livro de História.
Qual é “Natureza” de que falas neste vosso último disco? A atmosfera ressoa niilista. As letras mantêm essa toada?
É uma referência simples à essência de todas as coisas. Algo que não pode ser controlado ou manipulado sem consequência. A natureza é a força motriz por detrás de qualquer acto neste planeta e noutro, e ela é o verdadeiro Deus. Existe. Podes tocá-la, vê-la e não é algo construído pela mão humana. A maior parte das religiões mainstream não pode dizer isso. Quanto às letras, elas mencionam atrocidades e episódios que acontecem neste mundo. Do passado ao presente. A humanidade a fazer o que melhor sabe: matar.
Quando ouço a “Of Suffering”, aquele início só me faz lembrar a “Sanitarium” dos Metallica. Foi uma coincidência ou há ali uma espécie de momento tongue-in-cheek?
Hmmm, não acho que tenha sido uma intenção clara. Os Metallica dos anos 80 são uma grande influência para nós, portanto talvez tenha sido algo inconsciente? Tens de perguntar ao Matt [Woods; baixista] ou ao Adam [Wentworth, guitarrista]. Eu sou só o gajo que berra ao microfone.
Aborrece-te que os APMD sejam tratados como uma espécie de banda que apenas reverencia Entombed? Há ainda espaço para ser original no metal/hardcore?
Os Entombed são uma granda banda, que lançaram óptimos e influentes discos durante a sua carreira. Aposto que eles odeiam que algum cromo tenha cunhado a frase “banda reverenciadora dos Entombed“. Diminui imenso o que eles têm feito, na minha opinião. Quanto à originalidade, não andamos aqui a reinventar a roda. Preocupamo-nos em atingir novos limites pessoais e gravar um disco melhor do que o anterior, que possa soar único de alguma perspectiva ou forma.
Vocês basicamente não tocam ao vivo. Não deram concerto algum em 2013.
Não tocamos desde Junho de 2012, sendo preciso. Não fazemos disso uma prioridade, acho. O tempo que dedicamos à banda é bastante limitado, portanto compor e gravar está sempre em primeiro lugar. Tocar ao vivo e entrar em digressão surge num segundo posto, a larga distância.
Até quando vês os All Pigs Must Die dedicados a metralhar quem lhes surge adiante?
Até não termos mais ideias e nos começarmos a aborrecer com o assunto, acho. O “problema” é que o Matt está sempre a escrever material novo, portanto veremos o que o futuro próximo nos trará.
Disseram-me no outro dia que sabes que estás velho quando deixas o metal e começas a investir em discografia folk. Já te sentes nessa fase?
Não me preocupo se é metal, se é folk, se é rock. Gosto do que gosto. Se tiver convicção e sentimento, então irei ouvir e apoiar. Sou o tipo de pessoa que ouve discos de música clássica durante três horas e depois mete Neurosis ou The Stooges.
Inteligente, estável emocionalmente, bonito. Escolhe dois.
Celtic Frost e “Breaking Bad”.
Qual é o melhor sítio para comer no Massachusetts?
Toro, em Boston.
Uma mensagem para o Papa Francisco.
Explique-me a Imaculada Concepção novamente. Estou a ter dificuldades em absorver a ideia.