Ao quarto longa-duração, os Alcest apresentam o seu mais ambicioso disco em termos de composição. Se a ambição na maior parte das vezes pode originar ganhos, em “Shelter” vislumbra-se precisamente o contrário, resultando daqui a possibilidade de o encarar de duas formas. A primeira, submetendo-nos a uma amnésia selectiva e esquecer tudo aquilo que já representaram, para assim conseguir descortinar algum brilho. A segunda, acreditando que esta será a mesma banda que nos brindou com “Souvenirs D’Un Autre Monde” e “Le Secret” e gerar pouca complacência para com esta nova proposta. Optemos pela segunda.

Há muito que este universo sonhador, fantástico, constituía uma presença global nos discos dos gauleses. No fundo, como se tivessem embrenhados numa floresta densa em que os raios de luz são presença, mas não uma constante. “Shelter” é apenas luminosidade e a indecência de retirar a obscuridade da estrutura sonora dos temas, acaba por transmitir uma menor sintonia com os mesmos. Como se no mais belo jardim nascessem apenas as mais belas plantas e não houvesse lugar para arbustos espinhosos.

Apesar das reticências e da tentativa de não acreditar que isso fosse possível, Neige estava completamente certo quando referia, no pré-lançamento do registo, que por aqui nada residia de metal. Talvez não tenha percebido que a ligação entre esses elementos mais robustos e toda a componente vocal pouco terrena, tornava-nos num caso quase único de harmonia entre vertentes tão díspares. Diga-se mesmo, os Alcest eram especiais e deles esperava-se sempre algo abrasivamente bonito e não banalidades deprimentes como “L’éveil Des Muses” e o tema título “Shelter”.

Também não se esperaria a baladinha entediante “Away”, nem a tendência a abandonar o disco. Contudo, a força instrumental e a interessante melodia de “Deliverance‎” acabam por compensar moderadamente quem teve a coragem para chegar ao fim. Tema-se por eles.