Ao fim do terceiro longa-duração, os Alcest criam aquele que será o seu disco mais suave e, progressivamente, distanciado das ambiências Black Metal que caracterizavam o já longínquo EP Le Secret.
Assim, em Les Voyages de l’Âme, as vozes gritadas estão cada vez menos presentes, com a melodia, os riffs atmosféricos e os coros a preencherem a peça principal e predominante no álbum. Parafraseando, os Alcest – um dos grandes esteiros daquilo a que se poderia chamar de BM fofinho – atingem, neste registo, o seu estádio mais puro e de uma beleza cada vez mais contagiante.
Neige sempre referiu a importância que as memórias e as fábulas têm na sua concepção da banda. Consequentemente, Les Voyages de l’Âme é o trabalho que, mais marcadamente, remete para esse tipo de universo fantástico, repleto de anjos e demónios. No entanto, a negritude tem vindo a desaparecer e se, por exemplo, em Souvenirs d’un Autre Monde, os demónios estavam num plano de conquista eminente, no novo registo sente-se uma bondade e uma atmosfera de relaxamento, em que claramente os anjos saem vencedores.
Estranha-se, por isso, a falta de momentos realmente nefastos em que a escuridão invade e aniquila toda a bondade dos anjos. Enquanto que Souvenirs d’un Autre Monde aproximava-se de uma ambiência mais invernosa e negra – ou Écailles de Lune , que apostava num espectro mais primaveril -, Les Voyages de l’Âme é, claramente, um objecto solarengo, mais animado e que, aparentemente, vai ao encontro daquilo que Neige sempre pretendeu atingir com Alcest.
Ao cabo de três álbuns, o mentor foi conseguindo aproximar-se do objectivo de sempre da banda: a pretensão de não soar nem obscuro, nem depressivo, mas, essencialmente, pouco reflectido na realidade e acima de tudo, nostálgico.