Sobremaneira mais negra e tormentosa foi a actuação de Vaee Solis em relação à chuvada a bater do lado de fora. Não obstante das palavras lhes acentarem, e que por certo não lhes desagradarem, eles dizem-nos mensagens espirituais – a significação de Vaee Solis, segundo a banda, é a morte do ego.
Os gritos da vocalista Sophia são horripilantes, coisa com potêncial de eriçar a pelugem da nuca. Conversámos, recentemente, com ela e o baterista da banda a propósito da edição do seu disco de estreia “Adversarial Light”, em que revelaram a preferência pela escola do black metal sueco, resvalado entre sludge e doom. Coisa verificada ao vivo e transitada com primor nos ululos iniciais do nosso Pedro Roque, o convidado especial que lançou o microfone para os cuidados intensivos. Conta-se que ainda lá permanece sob observação.
Entretanto, Lâmina? Só se nos esfaqueássemos num braço sentíriamos o seu concerto a puxar por outras décadas. Ou se golpeássemos uma artéria importante, nos deixássemos cair naquele transe do túnel e tal; e eis que, porventura, o som da banda nos surgiria como algo, tipo, arte. Viram-se pernas fartas a fazer batuque e um tipo a quem faltava uma boina a uivar conversas de pequeno-almoço. Lá fora, por entre bafos de erva, alguém disse, a propósito da cover de Black Sabbath, «aquilo não é uma banda, aquilo é um poster».
Não parou de chover. A rua do RCA enchia-se de nómadas com tochas acesas, abrigados onde dava, a cada intervalo. Desarmam logo aos primeiros indícios de som – ninguém quer chegar depois da hora a Acid King, apesar de estar somente meia-casa preenchida.
Dez anos de hiato discográfico. Honras para a apresentação de “Middle Of Nowhere, Center Of Everywhere”, recentemente editado, sucedendo ao longinquo “III” de 2005. O amor palco-plateia foi gradual, um sintoma de apresentações. “2 Wheel Nation” e “Electric Machine” tiraram as teimas num setlist quase inteiramente dedicado ao novo disco da banda. Quanto à perfomance do trio, faltou várias vezes vigor ao som arrastado. Quiçá culpa do cansaço de estrada, quiçá, para Acid King, apenas outra noite no meio de outras tantas – aqui para nós, o baterista parecia estar a tocar jazz. Só que para Portugal não era mais uma noite. Era a estreia. E a estreia não chegou onde ao clamor que projectámos. Ficou ali à porta, com a cabeça meio à chuva, a cantarolar “Sunshine And Sorrow” até ser hora de voltar a casa. Foi bom, poderia ter sido muito melhor.