Quando há dias aqui coloquei a crítica a All We Love We Leave Behind, o novo álbum dos cimeiros Converge, foi impreterível realçar um dos conceitos-chave de todo o trabalho: o tempo. Não o meteorológico, mas aquele que se humaniza em calendários e relógios, aquele que passa por nós e anacrónicos e dessincronizados nos deixa, num esgar. Se um dos receios actuais de Jacob Bannon é o facto de se sentir demasiado trintão para vaguear numa cena maioritariamente composta por miúdos, os A Thousand Words, por outro lado, traduzem na mouche a angst e a desolação de quem a contrapasso vagueia desde cedo.
Não se julgue, contudo, que o primeiro EP dos algarvios é uma rudimentar libertação hardcore, feita de três acordes e o ocasional breakdown. Se a demo de 2009 até nos pode remeter para um território onde os Terror ou os No Turning Back são venerados, neste extended play temos algo que demarca claramente os A Thousand Words desse campo de batalha. A luta deles é outra: faz-se no interior e é expelida através de uma combinação que une a pujança do core à melodia e dissonância conduzidas por ventos post-metal/sludge.
Assente numa ira sem fim tangível e numa melancolia que traz à superfície um corrupio de temores e encruzilhadas, a dicotomia das composições dos A Thousand Words transporta-nos para os Rise And Fall do tempo de Into Oblivion e para o obrigatório Black Eye Blues dos Lewd Acts. Enlaçados, encontramos momentos onde o caos irrompe – Blind e Sinners – e onde a contemplativa nostalgia toma as rédeas – Burn e Crosses. Longe de soar imberbe, o som dos portugueses revela uma maturação admirável para quem só agora está a dar os primeiros passos a sério e a produção do EP não lhes “corta” a pernas, bem pelo contrário. Os riffs soam “tight” como se quer e os treze minutos de duração detêm uma atmosfera concordante com o denso teor do registo.
Naquele que é um dos melhores lançamentos nacionais do ano, eis, para concluir, uma curta descrição dos temas pela própria banda, em exclusivo para o PA’: