apache chief já não toca sentado. Ao telefone, na risota, contraria-nos. E não vai nessa de que o levantar o rabinho da cadeira se deva a uns Wovenhand de pêlo na venta eriçado. Mas jamais renega, enquanto a conversa se distende noutra impávida manhã do Colorado, a tantas mais semelhante, que é nestes dias um quarentão armado em insurrecto. Um pirómano de ganas cheias na sua intra-rebelião, por agora alimentada a punk e peer pressure.

David Eugene Edwards está hoje além dessa intentona egoísta pós-16 Horsepower. Não é mais o solitário cordeiro de Deus (mas de Deus será sempre) e a consequência-mor está em “Refractory Obdurate” escarrapachada: Wovenhand virou conciliábulo. Foz que todas as afluentes atende e ausculta. Daí que “Masonic Youth”, sem que nela cheguemos por um bocadinho a ter mão, descarrile na punkadaria, ribanceira abaixo. É um nexo de causalidade. Ou não andasse o pastor D.E.E. nas montanhas escoltado por Chuck French na guitarra e pelo caloiro baixista Neil Keener. Homens de negras ao léu. Amuletos do dá e leva do hardcore, ganhas em nocturnas pugnas de Planes Mistaken For Stars e Git Some.

Esse frenesim quase garoto de Wovenhand ostenta palm mutenuma “Goods Shepherd” fervida em maneirismos circa 1979. Como se Edwards, para lá da seminal reinterpretação de “Heart And Soul“, quisesse condecorar os Joy Division como os monarcas deste e de qualquer outro mundo em que ele piamente acredita. Sim, há por aqui post-punk suficiente para deixar Keener com a testa de suor abespinhada, entregue à rangente e feroz intro de “Field Of Hedon”, outro gigante tema uptempo.

Mas, mesmo transportando na sua carcaça o maior peso que Wovenhand já nos deu, “Refractory Obdurate” não omite as introspectivas conjuras que a David Eugene sempre lhe identificámos. Os plenários de um homem só, de banjo sacrificado à Santíssima Trindade, como que em troca pedindo uma avalanche de influências e indefinidos contra-estilos, vivem em “Obdurate Obscura”. Está nela tudo o que nesta entidade amamos: a voz, profeta e distante, afogada no dilúvio bíblico; a tensa e apátrida atmosfera, nascida sabe-se lá em que cronologia, e que só a muito custo lhe aferimos o epíteto folk.

O oitavo LP de Wovenhand não é só o seu o melhor por ter a jugular mais saliente ou a têmpora mais esbugalhada. Esse resplendor vindo de um puro esforço colectivo anteriormente menosprezado fá-lo grande. Mas maior só se torna por haver no sacerdote Edwards vontade de pontapear o marasmo, a camponesa pasmaceira de onde habita. Erguer-se, por fim, e atear-lhe o fogo da sublevação.