Um comboio humano como por certo nunca José Malhoa terá visto encontrava-se estacionado à porta do Musicbox na última quinta-feira (dia 4). Prenúncio do propósito da vida estar a ser explicado naquele local ou, então, de nesse dia a entrada ser livre. Noite forte da festa do oitavo aniversário da sala de concertos do Cais do Sodré que, além de Awesome Tapes From Africa e o conjunto fundado pelo luso-venezuelano Alex Figueiras, contou com o cantautor canadiano Mac DeMarco anunciado no próprio dia.

Ingredientes que, além do incentivo financeiro, levaram à já agitada rua “cor-de-rosa” muito boa gente que estava irremediavelmente destinada a não entrar.

A festividade, no entanto, começara já desde terça-feira com as actuações de Pista e Guerilla Toss, continuando no dia seguinte com Moullinex e Experimentbox. Na sexta-feira, estreou-se em Lisboa o rapper angolano Ikonoklasta, que até então só no Porto tinha actuado. Algo que já raramente acontece e que, segundo recentemente nos confessou, em muito se deve ao activismo cívico-político que adoptou como modo de vida.

O estreante viu uma casa bastante composta ouvir as invariáveis tiradas políticas que intervalam as suas músicas, referindo energicamente o recente caso de tortura denunciado por uma estudante que se manifestava em Angola, noticiada em Portugal pelo Público.

Numa actuação que contou vários convidados (primeiro Xeg e Sir Scratch, Valete depois e, por fim, a belíssima voz de Aline Frazão) o MC angolano conseguiu, apesar do conteúdo denso das suas palavras, estabelecer uma empatia que se pôde confirmar mais tarde durante o concerto dos incansáveis Batida.

Acolhidos na respeitável Sound Way Records, de onde saiu igualmente o homónimo de Fumaça Preta, os angolanos sediados em Portugal têm vindo, desde 2006, a corromper a Europa com o seu voluptuoso som. No Musicbox, apresentaram “Dois”, o segundo álbum da banda, editado em Outubro.

Reportagem fotográfica completa no Tumblr Olho Pardo.