Viver em Addiscombe, na costela sul de Londres, pode ser chato. Na esmagadora maioria do tempo, estou mais à beira de rebentar com esta merda toda tipo Adolf Verloc e não tanto a contemplar a metrópole que os turistristes adoram fotografar. Quando li sobre os Viet Cong, a tag post-punk veio atrás que nem marca de gado e julguei ter aqui outro disco a lamber as botas à Factory Records. Nada contra. Eu queria isso. É inverno, está um frio que não se pode e a garrafa de Macallan esvai-se como um porco na matança. A metafísica foge com o álcool, de mãos dadas num horizonte melhor, e eu aqui fico: de olhos postos nos tijolos do vizinho, tão badalhocos como ele. Sobra-me este “Viet Cong”, a pagar horas extraordinárias aos meus speakers pelo trabalho que lhes dá.
De Joy Division não tem ponta dum corno, e mais depressa noto nos baixos dançantes um certo optimismo melodramático do que a prostração que leva alguém a brincar com o estendal da roupa aos 23 anos. Nop, os neurotransmissores dos Viet Cong não estão cheios de humidade triste com a existência. Quanto muito limitam-se a retransmitir a meta-linguagem dos This Heat, de nádegas a abanar cheias de new wave pelo esfíncter acima. Cada um sabe o que lá mete e os Viet Cong, que um dia já foram Women, brincam muito bem com os sintetizadores, burilando e burilando até ao clímax. Não era o disco que eu esperava, mas fico contente por me sentir no final da noite como um voyeurista atrás da moita.