Como nos confidenciou mais cedo Ace em conversa aberta num Music Box vazio, os Mind Da Gap são os convidados do seu próprio aniversário esta noite em Lisboa. Duas décadas de rap em Portugal não é coisa pouca, muitos começaram e ficaram pelo caminho; mas MDG em cada lançamento angaria uma nova camada de seguidores ao mesmo tempo que mantém os de há vinte anos atrás. O Music Box é um sítio muito peculiar: perto da meia-noite as imediações não indicavam ainda grande afuência e inevitávelmente más recordações me assombraram, temi uma má noite para os portuenses. No interior o cenário continuava contraditório, com pouca gente e a habitual aura de masmorra. Um atraso de vinte minutos no entanto, desponta novamente na raridade desta sala, que surpreende agora pela rapidez na sua composição.

Felizmente nem todos os dias são iguais, após a entrada de Serial,André Hollanda (bateria) e de Sérgio Freitas (teclas), Ace ePresto confirmaram-no com “Há Dias”. Faixa de – “Regresso ao Futuro” – um disco de letras intímamente ligadas ao indíviduo, ao seu quatidiano, áquilo que no fundo todos padecemos um pouco. Algo eximiamente demonstrado em “Vozes Na Cabeça” numa groovada prestação instrumental que não entristece por substituir mais um brilhante diamante de Serial; no final da música Ace ePresto embalados pela banda marcaram a viragem no espírito de uma já númerosa, porém até então, acanhada plateia. O amor foi retribuído e de seguida “Não Stresses” traz definitavamente a luz ao calabouço sonoro do Cais do Sodré. O primeiro single do último registo – “Este Beat” – surge numa versão portentosa injectada pelo evidente factor banda, corpos mexem-se em sintonia, boas energias pairam no Music Box, o ambiente estava tão cool que os inquisidores ficaram à porta.

O regresso ao passado inicia-se inevitávelmente “Sem Cerimónias”: primeiro com “És Como Um Don” e de seguida foi a clássica “Dedicatória” – desasseis anos depois – o primeiro single da carreira do grupo é ainda um dos pontos cimeiros do seu espólio. “Não Pára” não traz o seu trunfo mas tal não impediu que o título se repercutisse no público como se fosse uma ordem, estes obedeceram prontamente com coros bem audíveis e entusiasmo puro.Tal como anunciou Ace, inciou-se na actuação a fase dos convidados: primeiramente foi Rey para dar uma volta até ao “Jardim” numa prestação sem espinhas nem escamas; depois houve trunfo e que trunfo: Sam The Kid é chamado ao palco para dar vóz ao hit “És Onde Quero Estar”, é impactante a forma como reproduz ao vivo tais demonstrações de flow.No final cantam-se os parabéns, grita-se o nome do conjunto, e outras mais reacções próprias de uma noite especial.

O que se passou depois foi outra história – ou foi mesmo história – da plateia subiram ao palco quatro indivíduos: Mundo, Maze,Expeão e Fuse. Preparam-se as ‘armas’ para apontar as “Sete Miras”, encontra-se demasiado peso em palco: sete tripeiros de flow voraz e línguas afiadas (malta fodida na rima). No falso final surge aquele inconfundível sample, uma espécie de “Still Dre” da tuga, falo obviamente do clássico – “Todos Gordos” – sem qualquer dificuldade a ser o momento mais entusiástico da noite. O regresso foi rápido e novamente ao futuro com “Nada Complicado”, de seguida “Sem Cerimónias” oferece-nos o clássico que faltava: “Falsos Amigos” perpétua-se com semblantes nostálgicos e lábios que se mexem em conformidade. Para o fim a banda guarda o single que confirmou o disco de platina em 2002 – “Bazamos ou Ficamos?” – os “Suspeitos do Costume” fizeram a pergunta, no entando era já sabido que cumpririam somente a primeira parte.