Terminada a incrível e aliciante demanda começada com a trilogiaTotem, Far West marca o regresso do misterioso agrupamento. A primeira grande leitura e ansiedade transportada para um disco desta magnitude tem, obrigatoriamente, que se prender com a tentativa de se descortinar diferenças e a possibilidade de novas explorações. À pergunta “será assim tão distinto?”, só pode surgir uma resposta: impossível perceber. A mestria, o etnicismo e a espiritualidade continuam bem presentes, mas ao longo dos tempos têm-nos mostrado que a sua capacidade de abordagem é tão ampla que, muito dificilmente, é possível perceber onde se encontram. Na verdade, os Master Musicians of Bukkake persistem como uns majestosos gestores dos vários climaxes que um disco pode ter. Gerem os tempos e a intensidade como poucos, não se mantendo fixos numa temática, mostrando sempre uma nova e diferente incursão.
Far West é essencialmente imagético, conseguindo posicionar-nos perante inúmeros e diferentes cenários. Veja-se a faixa inicial,White Mountain Return, que, apesar da distorção inicial, acaba por se suavizar e nos mostrar as paisagens que tantas vezes nos chegaram através dos westerns. Oiça-se Gnomi e o seu trabalho coral com os apelos vocais, a pedir a caminhada na montanha, a passada difícil, os ventos que nos chegam com as cordas, a dificuldade e a consequente conquista. Ou Arche e a sua orientalidade, a solicitar o turbante e as vitórias sob a lâmina do sabre. Cave of Light: The Prima Materia e a descida ao ritualismo, as dádivas, oferendas e sacrifícios a um qualquer ente sobrenatural. Mas nem só de incorporações passadas se faz o novo longa-duração. A utilização marcada dos sintetizadores acaba também por lhe conferir uma dose de experimentalismo e sensação de futurismo a que não escapam os dois últimos temas do disco.
Por isso mesmo, cada momento parece prescrever e transmitir um carácter humano na transposição musical para aquilo que representam algumas etapas da vida. Torna-se fácil e intuitivo atribuir factores pessoais a cada uma das faixas. Parecem-nos tão próximos e tão ligados às nossas sensações, que a assimilação do álbum é quase imediata, apesar de, ao longo do amadurecimento do disco, a descoberta de pequenas passagens não antes perceptíveis, ser uma constante.
Se Totem Three mostrava ser o fim de um percurso, também nos encaminhava para aquilo que podia ser o início de algo mais. Alias, o último tema dessa obra, Failed Future, surge-nos agora, ao passo de dois anos, como a ponte sonora para Far West. Assim, os Master Musicians of Bukkake mostram, novamente, aquilo que são: mestres a jogar e a fazer-nos trabalhar com as nossas emoções, colocando a racionalidade num local muito, muito distante.