Eluvium – “Nightmare Ending”

Depois da sensação de desespero criativo transportada com a edição de Similes, ficou-se com a noção que Matthew Cooper precisava claramente de se afastar da composição através de Eluvium. O próprio, também pareceu sentir essa necessidade, e o trabalho assinado pelo seu real nome, ou o seu novo projecto em que respondeu como Martin Eden, simbolizaram esse afastamento. Pois bem, Nightmare Ending vem demonstrar que, por vezes, uma ausência relativamente prolongada pode ser o aditivo para se conseguir reconquistar a magia que parecia ter perdido depois do lançamento de Copia.

Nightmare Ending traduz-se numa construção musical singular: no início com as primeiras faixas a transportarem as ambiências mais suaves do drone para, posteriormente, o percurso onde o piano assume o pódio, tendo a capacidade para conseguir desferir o ataque e circular pela inércia. Consegue com as suas marchas lentas criar um estado em que se sente a falta de reacção e um estatuto inanimado, sendo o melhor exemplo disso a distorção recorrente, mas harmoniosa, de guitarra, muitas vezes gerida pela cadência dos tons de piano, em que a passagem de um tema como Unknown Variation para Caroling, surge como o expoente máximo desta ideia constante no duplo disco.

O sétimo longa-duração do músico americano retoma a elegância habitual das suas composições, quase satirizando todas as revoluções e falta de acalmia com que tantas vezes nos deparamos, mostrando que ainda é possível compor algo capaz de transmitir as mais belas motivações e conferir um sentido de paz que já poucos conseguem transitar para o ouvinte.

Apesar de o piano ser a linha mestra, é possível descortinar em todos os instrumentos utilizados no álbum – inclusive no extemporâneo uso dos sintetizadores – uma ode à tranquilidade em que, não fosse a divisão temática, seria possível acreditar na existência de uma peça única. Eluvium mostra que se Nightmare Ending fosse um trabalho matemático, teria as propriedades de uma composição geométrica em que tudo assenta numa necessária noção de forma e também de espaço.