A premissa faz-se simples: ninguém – seja este petulante escriba, seja o vigilante leitor – se traduz num tom. Jamais haverá negrume sem um feixe de luz; jamais nos banharemos prazenteiramente no sol sem conhecermos o gris que a chuva transporta. Sequer nos entregaremos ao amor sem provarmos (antes ou depois) repulsa. Princípios complementares, yin-yang. Vida.

Os Oathbreaker, sob regência do seu segundo disco, falam-nos de Eros (Cupido, na romana mitologia) e do seu irmão de sangue Anteros. Paixão retribuída versus paixão incorrespondida. O acatar de que a vitória não existe sem o medo da prostração assoberba o álbum de um pardo sentimento, decididamente mais límpido do que “Mælstrøm”, seu antecessor. À cabeça, cedo vislumbramos que Caro Tanghe desatou o seu registo clean, por demais encantador – como que oferecendo brilho aos Oathbreaker. Se “Eros|Anteros” é uma opus melancólica, nostálgica (que o é!, a introdução “(Belteenis)” morde-nos  de pronto a psique), não lhe negamos a esperançosa matiz que o combo “As I Look Into The Abyss” / “The Abyss Looks Into Me” revela. Numa insinuaçãonietzscheiana, os seus quase onze minutos terminam com o atirar de rosas para o sorvedouro, tal como o filósofo alemão nos propunha. Cortesia da melíflua voz da belga.

Indesmentível é também o facto de que Lennart Bossu, seis das doze cordas de Amenra, decidiu abrir o seu encoberto manancial e encher Oathbreaker de taciturnas ambiências. Vulgo post-metal neurasténico, cunhado pela igreja de Ra. Ao averiguarmos o extenso curtain call que “Clair Obscur” simboliza, destapamos filamentos que nos parecem litúrgicos ornatos das composições “Mass”. O dissonante hardcore, o hardcore metálico, o dark hardcore – o que lhe quisermos baptizar – em “Eros|Anteros” oxida nas membranas do sludge envolvente. O tema “Offer Aan De Leegte” poderia encontrar nos suíços Time To Burn reflexo e nem lhe isso surripiaria lógica. Difícil, sim, seria falhar o prenúncio de que os Oathbreaker se tornariam num bicho com voraz gula pela atmosférica aura de Ghent.  A progressão certeira, dessarte.